Iran do Espírito Santo

Iran Teófilo do Espírito Santo (Mococa, SP, 1963). Artista multimídia, desenhista, escultor, gravador. Em 1986, licencia-se em Educação Artística pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap/SP), onde tem aulas com os artistas Nelson Leirner (1932) e Regina Silveira (1939) e aproxima-se de artistas como Ana Tavares (1958) e Mônica Nador (1955). Insere-se, assim, no questionamento dos usos tradicionais dos suportes artísticos.  

 

Em 1986, transfere-se para Londres, onde reside por dois anos. Em 1991, faz sua primeira exposição individual na Plug in Inc. Gallery, em Winnipeg, Canadá, onde também faz residência artística. Dois anos depois é artista residente do Tamarind Institute, em Albuquerque, Estados Unidos. Desde então, Espírito Santo desenvolve uma produção extensa. Expõe seus trabalhos em 2007, na mostra panorâmica organizada pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, em conjunto com o Museo Nazionale delle Arti del XXI Secolo (MAXXI/Roma) e pelo Irish Museum of Modern Art (IMMA /Dublin). Em alguns momentos da carreira, atua como ilustrador e artista gráfico.  

 

Análise

Desde meados da década de 1980, o trabalho de Iran do Espírito Santo problematiza a representação visual e os hábitos perceptivos do espectador. Ou, como sugere o curador norte-americano Garry Garrels (1951), “promove um diálogo entre o que vemos e a maneira como compreendemos o que vemos”. Nesse primeiro momento, é sobretudo no desenho, base de seu processo criativo, que a acuidade técnica e a economia formal mostram-se com maior evidência. Trata-se de recursos que, ao trazer os objetos cotidianos para o espaço da arte, questionam a naturalidade de sua aparência corriqueira. Na série Conteúdos Úteis (1989), o artista utiliza perfis de embalagens industriais, facilmente identificáveis pelo espectador, mas de acentuada impessoalidade em sua padronização. Existe uma atitude crítica face aos códigos visuais da sociedade de consumo e à inserção da arte nessa lógica, ou seja, faz o caminho inverso do objeto à ideia. Esse percurso chama a atenção de comentadores como o curador Felipe Chaimovich (1968).  

 

Ao mesmo tempo, na virada dos anos 1980 para os 1990, as instalações do artista chamam a atenção do espectador para as relações entre a obra e o ambiente em que se situa. Muitas das pinturas em parede e das experimentações com superfícies translúcidas e espelhadas que Espírito Santo produz até os anos 2000 vão nessa direção. É o caso de trabalhos como Extensão e Restless 1 e 2 (1997), que jogam com as complexidades impostas ao olhar pela produção de superfícies ambíguas, e que problematizam as relações espaciais dos locais expositivos. Em Extensão, por exemplo, o artista cria, em grande escala, o que parece uma parede de tijolos pintada em tons de cinza. Trata-se da justaposição de retângulos, linhas verticais e horizontais, delimitadas por cor. A familiaridade com as formas faz o espectador se deparar com os limites entre conceito e matéria. O mesmo acontece com Restless, em que painéis sobrepostos encostados em uma parede parecem tão familiares que tornam a obra quase “invisível”, pois colocam em dúvida o limite entre vida e arte.  

 

Já em Sem título (buraco de fechadura) (1999) existe nova problematização espacial. A obra é uma escultura em aço inox, que representa o buraco de uma fechadura. Um objeto sólido cuja superfície polida reflete o entorno. Ao mesmo tempo, em outros objetos produzidos nesta e nas décadas posteriores, Espírito Santo expande as possibilidades perceptivas dos objetos cotidianos e coloca em questão a naturalidade de sua aparência ao fundi-los em materiais inesperados, como o Copo d’água feito em cristal (2006-2007) ou a série de Latas (2004-2005) fundidas em aço inoxidável. Nelas, o trabalho manual é substituído por uma produção inteiramente industrial.  

 

A série CRTN (2004-2006) vai na direção oposta. Nesta, o artista produz ambiguidades por meio da aplicação serial de canetas marcadoras. Também em esculturas como as da série Destroços (2004), a aparente influência do acaso opõe-se ao procedimento controlado que lhes deu origem. 

 

IRAN do Espírito Santo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa103882/iran-do-espirito-santo>. Acesso em: 14 de Jun. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7