Abraham Palatnik (Natal, RN, 1928 - Rio de Janeiro, RJ, 2020). Artista cinético, pintor, desenhista. Considerado um dos pioneiros da chamada arte cinética no Brasil, expande os caminhos das artes visuais ao relacionar arte, ciência e tecnologia. De modo criativo, e ao longo de seus mais de 60 anos de carreira, desenvolve maquinários com experimentações artísticas e estéticas diversas.
Em 1932, muda-se com a família para a região onde atualmente se localiza o estado de Israel. De 1942 a 1945, estuda na Escola Técnica Montefiori, em Tel Aviv, e se especializa em motores de explosão. Inicia seus estudos de arte no ateliê do pintor Haaron Avni (1906-1951) e do escultor Sternshus e estuda estética com Shor. Frequenta o Instituto Municipal de Arte de Tel Aviv, entre 1943 e 1947, onde tem aulas de desenho, pintura e estética. Produz pinturas de paisagens, retratos e naturezas-mortas. O crítico Frederico Morais (1936) comenta os desenhos dessa época, dizendo que "a grafite, a linha é ágil, fluente, quase lírica". No desenho a carvão, "o traço negro é firme, sólido, realista, por vezes expressionista". [1]
Palatnik Retorna ao Brasil em 1948 e se instala no Rio de Janeiro. Convive com os artistas Ivan Serpa (1923-1973), Renina Katz (1925) e Almir Mavignier (1925). Com este último frequenta a casa do crítico de arte Mário Pedrosa (1900-1981) e conhece o trabalho da doutora Nise da Silveira (1905-1999), no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro.
O contato com os artistas e as discussões conceituais com Mário Pedrosa fazem Palatnik romper com os critérios convencionais de composição. Diz o artista: "O impacto das visitas ao Engenho de Dentro e as conversações com Mário Pedrosa demoliram minhas convicções em relação à arte". [2] Palatnik deixa de pensar a qualidade da obra baseando-se no manejo realista das tintas e na associação da arte com o motivo. Sua pintura e escultura abandonam os critérios escolares de composição e partem para relações livres entre formas e cores.
Por volta de 1949, inicia estudos no campo da luz e do movimento. Após pintar algumas telas construtivas, começa a projetar máquinas em que a cor aparece se movendo. Com base nesses experimentos são criadas caixas de telas com lâmpadas que se movimentam por mecanismos acionados por motores. Mário Pedrosa chama as invenções de Aparelhos Cinecromáticos, mostrados pela primeira vez em 1951, na 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Em seu primeiro texto sobre Palatnik, Pedrosa descreve esses aparelhos como caixas em que ele "projeta sobre a tela ou outro qualquer material semitransparente composições de formas coloridas em movimento".[3] O trabalho é pioneiro no uso artístico de fontes luminosas artificiais.
Em 1953 o artista expõe novos Cinecromáticos, na 2ª Bienal Internacional de São Paulo e na 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, no Hotel Quitandinha. O envolvimento com questões construtivas e o diálogo permanente com artistas como Ivan Serpa e Almir Mavignier levam-no a participar da criação do Grupo Frente, em 1954. No mesmo ano expõe na primeira coletiva do grupo, na Galeria Ibeu, Rio de Janeiro.
A partir de 1959, leva o movimento para o campo tridimensional. Cria trabalhos em que campos eletromagnéticos acionam pequenos objetos colocados em caixas fechadas. Ao mesmo tempo que inventa peças com que explora as possibilidades tecnológicas da arte, o artista faz quadros em superfícies bidimensionais. Em 1962, inicia a série Progressões, na qual compõe efeitos óticos ao utilizar faixas sobre uma superfície. No trabalho, usa materiais como madeira, cartões, cordas e poliéster.
Em 1964, nascem os Objetos Cinéticos. O artista cria esculturas de arame, formas coloridas e fios que se movem acionados por motores e eletroímãs. As peças se assemelham aos móbiles do escultor norte-americano Alexander Calder (1898), mas se diferenciam deles por se moverem com regularidade mecânica segundo a dinâmica planejada. Os Aparelhos Cinecromáticos são exibidos na Bienal de Veneza em 1964. A participação nessa mostra dá projeção internacional ao artista, que passa a ser considerado um dos precursores da arte cinética. Tal reconhecimento leva-o a participar, em 1964, da mostra internacional de arte cinética Mouvement 2, na Galeria Denise René, em Paris. Frederico Morais organiza em 1999 mostras retrospectivas de Palatnik no Itaú Cultural, em São Paulo, e no Museu de Arte Contemporânea (MAC-Niterói).
Ao criar composições que partem da cor, mas ultrapassam o limite da pintura, o artista é consagrado pioneiro em explorar as conquistas tecnológicas na criação de vanguarda brasileira, habilitando as máquinas para gerar obras de arte.
Notas
1. MORAIS, Frederico, Abraham Palatnik: um pioneiro da arte tecnológica. In: RETROSPECTIVA Abraham Palatnik: a trajetória de um artista inventor. São Paulo: Itaú Cultural, 1999, p. 09.
2. Idem, ibidem, p. 10.
3. PEDROSA, Mário, Intróito à Bienal. In: AMARAL, Aracy (org.). Projeto Construtivo Brasileiro na Arte. Rio de Janeiro, MAM 1977. p.170.
ABRAHAM Palatnik. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9891/abraham-palatnik>. Acesso em: 25 de Jun. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7