José Bento

José Bento Franco Chaves (Salvador, BA, 1962). Escultor. Em 1966, transfere-se com a família para Belo Horizonte. Autodidata, entre 1981 e 1988, cria uma série de cenas e ambientes em miniatura com palitos de picolé. Expõe parte dessas peças no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, em 1989. Nesse ano, realiza pequenas caixas de madeira e vidro em cujo interior desenha com mercúrio. Nessa época, começa a produzir esculturas com troncos tombados naturalmente, muitas vezes de árvores raras e seculares, que recolhe na região da Mata Atlântica entre Minas Gerais e Espírito Santo. Em 1990 e 1991, desenvolve Roda, trabalho que se distancia das obras anteriores e impulsiona sua participação em diversas exposições coletivas no Brasil. Recebe o Prêmio Brasília de Artes Plásticas no 12° Salão Nacional de Artes Plásticas (1991-1992), no Rio de Janeiro. Em 1993, realiza mostra individual na Casa Guignard, em Ouro Preto, Minas Gerais. A partir de 2000, trabalha também com vidro, espelho e granito. Em 2004, exibe suas esculturas no Museu de Arte da Pampulha - MAP, em Belo Horizonte.

 

Na década de 1980, José Bento realiza pequenas esculturas, com materiais como palitos de picolé, criando cenas cotidianas que assumem por vezes um caráter surrealista. Como nota o crítico Agnaldo Farias, essas obras são interessantes pela escala diminuta, pelo acabamento e pela inventividade, como em Ping-Pong (1981/1982), em que capta a velocidade e a trajetória de uma bola em um ambiente estático. Cria também caixas em vidro e madeira, em que trabalha com mercúrio, e explora projeções ou reflexos de figuras e formas geométricas.

 

A partir da década de 1990, José Bento realiza trabalhos de grandes dimensões, como A Roda(1991), composta por bastões de madeira justapostos e ligados por fios de nylon, que, enrolados em espiral, constituem um disco de cerca de um metro e meio de altura. Desenroladas, as ripas de madeira formam uma fita que se desdobra em suaves ondulações no espaço. Já em Alfabeto(1994), apresenta pequenas peças de madeira, com formas intrigantes e misteriosas que, apresentadas em série e dispostas sobre um plano horizontal, revelam a fonte de inspiração do artista: a visão das cúpulas de capelas do cemitério situado próximo à sua casa. Como aponta a historiadora da arte Aracy Amaral, a presença de símbolos relacionados à morte e à religiosidade é uma constante na poética de José Bento.

 

Posteriormente o artista passa a trabalhar com velhos troncos de madeira, obtidos de árvores caídas naturalmente na Mata Atlântica, que trazem marcas do tempo. As obras, que às vezes revelam um rigor construtivo, trazem em si também um caráter misterioso. Já nas "torres vazadas", criadas a partir de 1993 com ripas de madeiras empilhadas, predominam a linearidade e uma leveza pouco freqüente em sua produção.

 

Em peças produzidas a partir de 2000, José Bento retoma obras anteriores em caixas de madeira, criando pequenas instalações com módulos de espelho e vidro, sobre um piso também modular, de granito. Nessas obras, o artista explora a ambigüidade e a surpresa decorrentes da dificuldade de distinguir entre reflexo e transparência, como campos visuais diferenciados. Ainda na opinião de Aracy Amaral, seus trabalhos mais recentes, que remetem à arquitetura moderna e revelam um caráter ilusionístico, parecem indicar um novo desdobramento em sua produção.

 

JOSÉ Bento. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21322/jose-bento>. Acesso em: 26 de Jun. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7