Carlito Carvalhosa

Luiz Carlos Cintra Gordinho Carvalhosa (São Paulo, SP, 1961 - idem, 2021). Pintor, gravador, escultor e artista plástico. Sua produção inicial já revela uma preocupação construtiva, buscando vínculos entre a dimensão expressiva da matéria e da forma, explorando as propriedades estéticas dos materiais.

 

Estuda na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), de 1980 a 1984. Faz o curso de gravura em metal no ateliê de Sérgio Fingermann (1953), entre 1980 e 1982, que o influencia em suas produções. Ainda em 1982, integra o grupo da Casa 7, com os artistas plásticos Rodrigo Andrade (1962), Fábio Miguez (1962), Nuno Ramos (1960) e Paulo Monteiro (1961).

 

Uma das marcas do grupo da Casa 7 é a criação com materiais de baixo custo, por razões econômicas, como tinta industrial e papel kraft. Mesmo com materiais não convencionais às artes plásticas, o grupo mantém sua ênfase no gesto pictórico de influência expressionista e colabora para a reinvenção da arte brasileira de sua época. Um exemplo da criação de Carlito dessa fase é a obra Sem Título (s.d.), produzida com esmalte sintético sobre papel e de grande dimensão.

 

Participa da 18ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1985, última mostra do grupo, e, no fim da mesma década, Carlito realiza quadros com cera pura ou misturada a pigmentos. Mais tarde, passa a produzir esculturas com materiais diversos e maleáveis, miméticos e de cores branca ou translúcida, como tecidos, espelhos e luzes. Para o crítico Lorenzo Mammì (1957), o resultado final revela o processo de construção da obra, mas também o falsifica, alterando dados sobre as propriedades dos materiais.

 

Em 1989, Carlito recebe bolsa do Deutscher Akademischer Austauch Dienst (DAAD) [Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico], e viaja para Colônia, na Alemanha, onde permanece até 1992.

 

Realiza a exposição Carlito Carvalhosa, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro, em 1995, em que apresenta as Ceras Perdidas, produzidas entre 1994 e 1995. Como nota o crítico Rodrigo Naves (1955), a plasticidade da cera assegura a evidência do processo construtivo, por meio da forma dos cilindros que as moldaram.

 

Em 1996 e 1997, produz as esculturas de porcelana, em que associa o aspecto orgânico à rigidez e à aparência pura do material. A percepção do espectador se alterna entre as várias propriedades das peças, sem chegar a uma unidade harmônica. Na opinião de Naves, na criação do artista há uma espécie de convívio cindido entre aspectos formais, que deveriam se apresentar unificados, gerando certo incômodo, ao mesmo tempo que expressa o que há de interessante de sua obra.

 

Em 2000, é publicado o livro Carlito Carvalhosa, pela editora Cosac & Naify, com textos de Rodrigo Naves, Alberto Tassinari e Lorenzo Mammì.

 

Sua instalação Sum of Days ocupa o átrio do The Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York, em 2011. Nela, uma estrutura de material translúcido pendurada no teto, formando um labirinto, oculta o espaço que a rodeia, permitindo a total imersão do espectador. Microfones no interior da escultura tocam o som ambiente gravado no dia anterior.

 

Na individual Precaução de Contato, de 2014, troncos (antigos postes de luz) parecem estar suspensos pelo apoio da parede, com a possibilidade de cair a qualquer momento. O olhar do espectador se perde em suas produções, não encontrando um ponto de apoio definitivo. Essa ambiguidade também se revela nas esculturas, cuja colocação no espaço sugere sempre uma posição precária, gerando um desconforto para o olhar. Carlito expõe também na coletiva Passado/futuro/presente: arte contemporânea brasileira no acervo do MAM, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), em São Paulo, em 2019.

 

Carlito Carvalhosa transfigura o objeto e a matéria, tanto na pintura como na escultura, desfazendo a tensão da ausência de forma e propiciando ao espectador um novo olhar sobre sua criação final.

 

CARLITO Carvalhosa. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8854/carlito-carvalhosa>. Acesso em: 16 de Jun. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7